VIVA GERÔ E A GUERRA DO FACÃO CONTRA O RASCIMO

 


Dia 22 de março de 2022 completou-se 15 anos da tortura e morte de Jeremias Pereira da Silva, o Gerô, um artista popular do Maranhão com uma poesia e canto afiado como a lâmina do facão. Eu conheci Gerô pessoalmente, fui amigo dele e ele inclusive foi também um dos meus incentivadores na década de 1990 época do nosso primeiro contato, eu mostrava meus textos e ele dizia “negão isso é muito bom, continua negão, é isso ai”. Eu um artista que tava se encontrando e ele já conhecido na cena, foi importante pra mim.


Gerô era daqueles artistas nato, um extraordinário personagem da cultura maranhense com parcerias dentre as quais destaco Joãozinho Ribeiro, Escrete, Josias Sobrinho, Ribão da Flor, etc, além do seu eterno parceiro Moizés Nobre, outro artista conhecedor das veredas da arte popular. 

Compositor, ele também fazia músicas sob encomenda, e assim dezenas de jingles para políticos do estado foram criados por ele, um desses inclusive foi tema da vitoriosa campanha do ex-governador Jackson Lago em 2006.

 

Aconteceu que a 15 anos a polícia Militar do Maranhão confundia mais um negro com bandido, Gerô um artista talentoso e com uma grande história foi confundido com alguém que teria feito um assalto nas mediações da ponte São Francisco em São Luís e foi conduzido sem condições de defesa alguma a um julgamento bárbaro, insano, a partir daquele momento da abordagem, um julgamento que infelizmente faz parte da rotina no Brasil, das periferias brasileiras, impulsionada principalmente pelo racismo e o despreparo das forças policiais que deveriam proteger o cidadão e a cidadã.


Gerô foi colocado dentro de uma viatura da PM e imediatamente, ali mesmo iniciou-se a sessão de espancamento. Os policiais batiam nele que, por sua vez, alegava inocência da acusação de roubo, em vão. Gerô morreu assim.


E ainda pra lamentar mais e piorar a revolta, o que sabemos é que no momento do espancamento pessoas que transitavam pelo terminal da Praia Grande, local donde Ele foi levado, aplaudiam a ação dos policiais.

Gerô era um artista negro que no momento passava por dificuldades financeiras, e esse foi o seu principal “crime”, ser negro, artista e pobre.

Arte de Gerô não morreu é fato, além da memória que ficou na vida dos diversos amigos e fãs maranhense ele deixou uma obra, com seu inseparável chapéu de couro ele gravou quatro CDs que estão por ai fazendo a festa dos descontentes.

 

Gerô representa a mais genuína arte popular do Brasil com sua voz laminada e seu violão feito de fogo e pólvora, Gerô vive e é uma voz que não vai se calar, não deixaremos até que nenhum outro Gerô morra nesse Brasil do racismo, da ignorância e da falta de sensibilidade para arte de seu povo.


Então viva Gerô, viva o Brasil, viva a liberdade, viva a guerra do facão e da arte contra o racismo.


Beto Ehong

Artista, produtor, radialista e apresentador




Texto produzido para a Rádio Universidade FM

para o quadro Hastag 106 dia 1o de abril de 2022







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