USIMPLES - A FORÇA MUSICAL DA PERIFERIA


Um sub gênero do rap que surgiu nos subúrbios de Atlanta/EUA por volta da década de 1990, mas que ganhou vida própria no Brasil, esse é começo do trap, ou na íntegra da palavra traduzida “armadilha”, uma mistura entre hip hop, pop e música eletrônica, com letras que jogam na cara a verdade nua e crua a partir da vivência de cada artista.

 

É nessa onda, mas não só nela que a produtora musical USimples desenvolve um mega trabalho cultural, principalmente com jovens da periferia de São Luís em uma rede que envolve inúmeros agentes que começa com uma ideia na cabeça de um artista, segue com o beatmaker nos estúdios e a partir daí não há limites para o alcance, e quando falamos que não há limites é coisa séria, se você ligar o rádio, acessar as plataformas streams como o Spotify, Youtube, etc, isso em qualquer parte do mundo você vai ouvir a batida arrastada, hipnótica e grave do trap acumulando milhões de views, é um fenômeno que, ao que indica está apenas começando.

 

trap chegou forte no Brasil por volta de 2017 surfando na onda mundial que o ritmo desenvolveu, principalmente nos Estados Unidos, a partir daí esse tsunami só cresce e revela novos talentos a cada dia e cada vez mais jovens, envolvendo milhões de acessos e fãs principalmente nas plataformas de música populares, artistas como Matuê, Mc Igu e Denov são alguns dos principais nomes brasileiros do gênero.

No Maranhão a Usimples destaca o MC Ramonzinho, Anjos Vic, Ficha Mob, mas a trip é grande, KLT Cash, a fenomenal GGi e outras dezenas de MCs fazem parte desse circulo positivo que envolve arte, desenvolvimento econômico e esperança para milhares de jovens em sua maioria das periferias pobres do Brasil.

 

A MundiOca Revista Eletrônica acompanhada do fotógrafo Jorrimar Sousa encontrou essa força na sede da produtora, um estúdio que fica localizado na região da Cohab, bairro populoso e periférico da cidade de São Luís, Maranhão.

A conversa com Dinho Kalebe, Young, MC Ramonzinho, Anjos Vic e Max aconteceu na sala de gravação da maioria dos trabalhos da produtora, donde eles se comunicam com o mundo e reafirmam que o mercado tá de olho é no som que a periferia criou.

 

Já consideramos o trap como o som dessa geração, mas quem somos nós pra afirmar isso? Melhor deixar falar quem vive esse mundo de dentro e sabe como ninguém como é sobreviver nas armadilhas que o sistema impõe, e é aí que entra o trap porra.


MundiOca: Qual nome de vocês e o papel dentro da USimples?


Young: Meu nome é Young eu tenho 23 anos, comecei a fazer beats mais ou menos com uns 16 anos e em 2020 eu ingressei na USimples.

Dinho kalebe: Trabalho dentro da USimples muito nessa parte de produção e distribuição, que é a parte mais importante, que é você está com todo o material dentro das plataformas digitais, então hoje se você vê o som da USimples dentro do Spotify, no Youtube, por exemplo, pode ter certeza que tem o dedo do Dinho lá, então é isso que eu faço no momento, fora a parte de gerenciamento artístico também, hoje eu me intitulo e de acordo com meus colegas, como presidente, hoje eu sou responsável por levar o nome da USimples por onde quer que eu vá, entendeu? Então acho que é a responsabilidade por tudo isso, se hoje tá desse jeito que tá, tem um pouquinho disso que trago comigo, dessa força de vontade tipo de sempre ta levando o nome da produtora por onde quer que eu vá, eu digo que pra um dia ter a USimples foi necessário ter um Kalebe, justamente pra não deixar a peteca cair, porque muitas vezes a gente desanima, acontece alguns problemas, mas é importante ter alguém com responsabilidade suficiente pra que a produtora continue se mantendo de pé, entendeu? Então me coloco como responsável hoje de levar esse nome adiante.


Max e Anjos Vic: 


MO: O que é a USimples e o que ela faz?

Kalebe: Hoje é uma empresa onde a gente trabalha toda a produção artística de uma pessoa que sente o desejo de gravar ou produzir algo, vivemos em constante produção, não somente com os artistas da casa, a gente vai falar daqui a pouco quais  são esses artistas, mas qualquer um que queria participar e queira produzir com a gente, trabalhar essa parte de produção, gerenciamento de carreira, áudio visual, então você quer  fazer música? deseja fazer clipe? ou colocar sua música dentro do Spotify, quer estar dentro das plataformas musicais? a gente trabalha com tudo isso,  com distribuição, produção, mixagem e masterização pra ter um resultado legal  e represente a produtora, porquê não adianta a gente só produzir e o público não ter uma aceitação, e graças a Deus a gente até hoje consegue ter uma aceitação bem grande do público.



MO: Se o artista chegar aqui só com uma ideia na cabeça vocês entregam ele prontinho pra cair no mudo com todos os quesitos que precisam para uma boa produção?


Kalebe: Todo mundo que vem hoje para USimples, que grava um clipe, por exemplo ele não vai sair daqui somente com um clipe, ele vai ter as artes, e vai ter designe, vamos fazer a produção, a capa do single ou álbum e toda essa parte de divulgação, com teaser, com reels e fotos, tudo que ele precisar, né? Para que ele possa ter uma distribuição completa e a agente oferece tudo dentro de um pacote só.




MO: Atualmente vocês trabalham com quantos artistas? E quais os nomes deles ou delas?


Kalebe: Atualmente a gente tá com pelo menos 4 a 5 nomes, entendeu? MC Ramonzinho que eu digo que é o carro chefe da produtora, tem Anjos Vic, tem Fichamob, tem os trabalhos individuais de cada um deles, mas hoje em dia são os principais nomes, mas tem muita produção, se for estender pra produções avulsas, digamos assim, isso fica aproximadamente umas 30 produções direta ou indiretamente de artistas que passam aqui.


        MC Ramonzinho - Artista USimples

MO: Qual o perfil social desses e dessas artistas?

Ouça aqui Kalebe e Young



      

MO: Quais os canais de divulgação das produções, é a internet, as festas, o boca-a-boca?

 

Kalebe: Essa parte de divulgação a gente trabalha em shows, redes sociais, o nosso Instagram é bem ativo, os vídeos do Youtube que é onde você vai encontrar a gente, onde você colocar a palavra “U” e dar um espaço e colocar a palavra “simples” você vai encontrar um material da gente, então não é difícil encontrar, Instagram, Youtube, Spotify, qualquer plataforma digital que você for colocar o nome USimples você vai encontrar nosso trabalho lá, mas a resposta principalmente das comunidades é muito boa, a gente é reconhecido por onde a gente passa, os artistas são reconhecidos por onde  passam, a KTL Cash virou uma referência na região deles, o MC Ramonzinho é referência, tanto que o ultimo clipe que ele fez Pesadão, crianças paravam ele pra dizer “Ramonzinho quando eu crescer quero ser como você” então a gente tem, e sabe dessa responsabilidade. 

A gente já consegue ter baile, arrumamos as condições dentro das comunidade onde o pessoal se bota pra fazer show e tem dado certo, Anjo da Guarda, Liberdade, Bairro de Fátima, são vários que conseguem ainda produzir eventos pra que o artista possa se apresentar e hoje em dia quem carregar toda essa gama de artistas, com maior força é o bairro do Anjo da Guarda, tanto de funk quanto de trap, eles conseguem fazer as atividades, não é atoa que estão trazendo de Fortaleza o Matuê, que é o maior nome do trap nacional, tá vindo com produção de lá.

        Anjos Vic - artista e produtora USimples


MO: Aqui no Brasil, e eu acompanho isso também, o trap tem essa linguagem bem forte, de maneira nua e crua os artistas falam sem papas na língua o que sentem e vêm de verdade, e aí entra mesmo o sexo, as drogas, a violência, a maconha e sua legalização, esse estilo tá ligado diretamente a liberdade de expressão?


Kalebe: O trap é uma voz da favela, porque a maioria da galera que canta esse estilo hoje em dia, eu falo assim, que principalmente eu puxo pro nosso estado, pra nossa cidade, nós somos pioneiros, não tô falando pra levantar bandeira que foi a USimples que começou isso e tal, mas de certa forma fomos nós com a KTL Cash, então um dos primeiros trap style de São Luis foi a KTL Cash, até porque antes aqui esse público só ouvia boombap, o próprio Young é a prova disso, ele trabalhava muito o boombap, quando eu conheci ele era isso, e ai começamos a fazer trap de verdade, trazendo a KTL, trazendo essa linha mais underground, tipo falando de drogas, de mulheres gostosas e tal, mas o trap aqui fala muito de uma visão otimista também, que o cara vai vencer, que vai da certo é uma mistura de tudo é o que a gente vê hoje.

YoungQuando ele citou aqui a KTL era muito do mesmo antes, e como a gente trouxe um pouco dessa vertente do trap um pouco mais pesada a galera se chocou um pouco, porque víamos isso mais em são Paulo, a galera fumando maconha no clipe, então quando trouxemos esse clipe da KTL que se chamava Jovem Negro Livre, quando a gente trouxe isso impactou bastante, mais de 90 mil visualizações, foi bem loko.

Então no trap a maioria fala o que quer mesmo porque a maioria veio de alguma biqueira, veio de uma situação de assalto e encontrou a música como uma salvação e deixou aquela vida e aí a partir daquele momento, dalí em diante começa a contar sua realidade e serve também de incentivo, eu sou da rua mesmo, já vivi isso, ou então alguns ainda vivem isso e contam na música, falam o que tem pra falar.

Kalebe: Só esse nome Jovem Negro Livre já carrega muita coisa, tanto que o clipe movimenta até hoje, teve o lance lá nos EUA com George Floyd, o negro que foi assassinado, tipo quando ele foi assassinado pelo policial muita gente foi buscar na internet assuntos relacionados e o clipe cresceu também com isso, porque tava dentro do tema, se botar “jovem negro” na internet vai subir o clipe dentro das plataformas digitais.

Muitos dos artistas já foram traficantes, eu falo isso, é muito pesado mas sabemos que a música já salvou muitos jovens, isso é do caralho, o cara fala de uma realidade que ele vive, ele passa aqui na rua e vê isso acontecendo, é a própria vivencia dele, resumindo tudo, o trap é vivencia.

Então a gente já chegou chegando, todo mundo querendo saber quem era a gente, quem eram os artistas.


Clipe Joven Negro da KTL Cash


MO: A gente já pode dizer que o trap é a música dessa geração em que vivemos? 


Young/kalebe: Sim, já ultrapassou até o rock, daqui 50 anos nós vamos dizer, estive aqui


MO: E onde vcs querem chegar? 

Young: Chegar no resto do Brasil e esse é o meu desejo, não só daqui do Maranhão mais o Nordeste inteiro, a gente merece muito mais do que isso, o povo nordestino, a gente trabalha muito com pouco, e faz muito com esse pouco.

A gente precisa comer, pagar as contas e essas coisas todas, mas quando uma criança chega pra você e diz que gosta do seu trabalho pra mim isso não tem preço, isso não tem coisa que pague, é bem ai nessa hora que a gente fala “aqui eu ganhei”


Com a fala MC Ramonzinho

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Beto Ehong
Mais informações www.betoehong.com
Cantor, compositor, ator, produtor cultural
Bacharel em Comunicação Social - Rádio e TV/UFMA
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